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Blogdopa | Cratera avança e ameaça engolir trecho de BR em Valparaíso (GO)

Erosão existe há 30 anos, mas triplicou de tamanho nos últimos cinco; problema fica mais evidente a cada chuva.

Uma cratera de 500 metros de extensão avança sobre a BR-040, em Valparaíso de Goiás, cidade do Entorno do Distrito Federal, e preocupa moradores. A erosão existe há 30 anos, mas triplicou de tamanho nos últimos cinco. Com o início da estação chuvosa, porém, gestores ambientais alertam para o perigo de a voçoroca engolir um trecho da rodovia.

A voçoroca fica localizada no bairro Esplanada III, na divisa de Goiás com o Distrito Federal. Imagens feitas com um drone em 29 de outubro mostram a dimensão do problema. É possível ver que a erosão fica a poucos metros da via marginal da rodovia e que uma das bordas, de aproximadamente 2 metros quadrados, está prestes a desabar, o que pode acontecer com a próxima chuva.

A imagem foi captada pela gestora ambiental Paloma Ludmyla Morais de Medeiros, que acompanha o avanço da cratera desde 2016. Ela explica que a falta de drenagem e impermeabilização do solo e a supressão da vegetação aceleram o avanço da voçoroca.
“A erosão cresce em uma proporção assustadora e pode dobrar de tamanho em cinco anos”, alerta. Segundo a pesquisadora, de 2002 a 2015 houve um avanço menor da erosão em relação ao observado entre 2016 e 2019.

“É desanimador saber que os agentes públicos não estão interessados em resolver esse caso. Não é possível dizer quando vai ocorrer, mas, se não houver obras que direcionem o fluxo da água, é possível que a cratera chegue até a rodovia”, diz a especialista, que é pós-graduanda em Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística na Universidade de Brasília (UnB).

A realização de obras de infraestrutura também é a solução apontada pelo professor de planejamento ambiental da UnB Antônio Nobre. Ele explica que a voçoroca funciona como uma cachoeira artificial e que o local precisa de obras urgentes para frear o avanço da erosão.
“A primeira coisa a fazer é uma obra para que a água seja conduzida de tal maneira que não continue erodindo a cabeceira da voçoroca. Essa e outras medidas de curtíssimo prazo precisam ser feitas com urgência para constranger a cabeceira da erosão”, comenta.

O professor chama atenção ainda para a necessidade de elaboração de um planejamento ambiental, já que a cidade do Entorno cresceu desordenadamente, sobretudo nos últimos dez anos, e tem atualmente uma das maiores densidades demográficas do estado de Goiás: 2.165 habitantes por quilômetro quadrado. Esta é cinco vezes a densidade demográfica do Distrito Federal, que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 444 habitantes por quilômetro quadrado.

“O desmatamento e a urbanização de Valparaíso de Goiás, associados ao aumento de áreas impermeabilizadas, são as causas da erosão. Essa área não tem nenhum manejo de drenagem, a água desce com muita força e encontra na voçoroca um ponto de deságue”, explica.

Responsabilidade

Apesar dos alertas constantes dos especialistas, a questão parece estar longe de ser solucionada. Em 2015, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu o isolamento e o monitoramento da erosão, determinando ainda a identificação ostensiva de que se trata de uma área de risco.

Entre os pedidos liminares é exigido também que seja elaborado e executado um projeto de recuperação de área degradada. Esse projeto deveria contemplar a contenção do processo erosivo, a adequação da descarga de água da chuva e a recomposição do corpo hídrico.

A Prefeitura de Valparaíso de Goiás chegou a realizar um Estudo de Diagnóstico Ambiental para a recuperação da área e implementação de um parque de 50 mil metros quadrados. O local onde o bosque seria implementado foi anunciado pelo governo municipal em 2015. No entanto, o estudo nunca saiu do papel e a placa com as informações sobre a obra foi retirada no mesmo ano. Em vez disso, a prefeitura autorizou a construção de um shopping na vizinhança da voçoroca.

Segundo a Superintendência Regional de Goiás do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit-GO), os assuntos referentes à BR-040 devem ser encaminhados à concessionária que administra a rodovia, atualmente a Via 040. Já a administradora alega que a erosão está fora de sua faixa de domínio, que é de 40 metros a partir do eixo da pista, e atribui a reparação dos danos ambientais da área aos donos do terreno.

a Secretaria de Infraestrutura, Habitação e Serviços Urbanos de Valparaíso disse que existe um cronograma de ações com o proprietário da área, que é particular, a Via 040 e o MP-GO para solucionar definitivamente o problema de erosão. No entanto, ressalta que a galeria de drenagem é de responsabilidade da concessionária Via 040.

“No momento, a Prefeitura Municipal não possui condição de atuar neste trecho, tendo em vista que a voçoroca está num ponto de concessão da Rodovia Federal”, diz a nota enviada. O governo local admitiu que está prevista a construção de um parque ecológico, mas não informou uma data para o início do trabalho.

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