reunião entre governadores na residência do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, na qual Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, propôs que os Três Poderes “cedam” para ajudar a desescalar a crise institucional — e citou a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 como uma possível solução
O encontro realizado na tarde de 7 de agosto de 2025, com duração de mais de duas horas, reuniu governadores como Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Cláudio Castro (RJ), Jorginho Mello (SC) e outros chefes de Executivo estaduais.
Porta-voz do grupo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que todos os Poderes precisam “ceder um pouquinho” para mitigar a crise, sem que um se sobreponha ao outro. Ele destacou o papel do Congresso Nacional na desescalada do cenário político e defendeu que a Casa tenha autonomia para legislar “com tranquilidade” e sem pressões externas.
Como exemplo concreto para reduzir as tensões, Tarcísio citou a votação de uma anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 — proposta também defendida por Ronaldo Caiado (GO) e Mauro Mendes (MT).
O debate ocorre em meio à crise gerada pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros e às tensões relacionadas ao julgamento dos envolvidos nos atos golpistas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para os governadores, a anistia poderia ajudar a conter os “apaixonamentos institucionais” e restabelecer a harmonia entre os Poderes. Caiado e Mendes reforçaram que o Congresso deve ter liberdade para analisar o tema de acordo com o “desejo da maioria”.
“O Congresso Nacional tem que ter autonomia para legislar sem pressão. O Congresso Nacional tem um papel importante, pode atuar nessa desescalada, e os parlamentares precisam ter tranquilidade”, afirmou Tarcísio, sem mencionar a quais pressões os deputados e senadores estariam submetidos.
Mauro Mendes criticou, por exemplo, a declaração do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), aos líderes partidários em reunião nesta quinta-feira e a qualificou como “autoritária”. Como mostrou a Coluna do Estadão, o chefe do Congresso afirmou que “nem com 81 assinaturas (número total de senadores) pauto impeachment de ministro do Supremo”. Na outra Casa, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também tem se manifestado contra a votação da anistia pedida pela oposição bolsonarista.
“Há que se estabelecer uma harmonia institucional. A gente entende que os Poderes têm papéis na mitigação da crise. A gente não pode ter um Poder se sobrepondo ao outro. Os Poderes tem que contribuir para desescalar a crise. A gente tem que defender as funções típicas de cada poder, por exemplo o parlamento”, disse Tarcísio.
Em recado ao STF, o governador paulista afirmou que não é razoável que, “em nome de determinados valores, a gente agrida outros”. Segundo ele, o “caminho (para solucionar a crise) está quando cada um cede um pouquinho”. Mas, ao ser questionado pelo Estadão como o Judiciário poderia ceder na sua prerrogativa de julgar ações penais, Tarcísio não respondeu.
Caiado, por sua vez, citou o julgamento da trama golpista no plenário do STF, em vez da Primeira Turma, como o caminho para pacificar a relação com o Congresso e os governos estaduais. “O Supremo Tribunal Federal deve sempre em decisões como essas, delicadas como são, ouvir o Pleno. Decisões monocráticas só fazem acirrar o clima entre os membros e a população”, disse.
Também estiveram presentes os governadores Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ratinho Junior (PSD), do Paraná; Cláudio Castro (PL), do Rio; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; e Wilson Lima (União), do Amazonas. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), participou remotamente do encontro.
Mauro Mendes, que idealizou o encontro, disse ter convidado apenas governadores de direita por ter maior afinidade e para ter um grupo “seleto” capaz de discutir as respostas à crise de forma aprofundada.
Tratativas do tarifaço
Além da pauta política, os governadores discutiram medidas de resposta ao tarifaço de 50% aos produtos brasileiros aplicado nesta quarta, 6, pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Tarcísio disse ter ficado combinado com as demais autoridades o estreitamento do diálogo com os presidentes de partidos para “fortalecer a atuação parlamentar” e dar protagonismo ao Congresso no manejo da guerra tarifária.
No papel de porta-voz do grupo de governadores, Tarcísio disse que há “imprudência” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “em termos de relação internacional”. “A gente acabou indo por um caminho muito ruim, que acabou agredindo um parceiro histórico”, disse.
Os governadores dizem aguardar o anúncio do pacote de medidas do governo federal para mitigar os efeitos do tarifaço para, então, “cobrar mais energia” nas negociações com as autoridades norte-americanas.
Caiado afirmou que Lula agiu com “insensatez” ao dizer que “não iria se humilhar para falar com Trump”. Os governadores de Goiás e São Paulo cobraram empenho da gestão Lula para negociar com o norte-americano.
Já Mauro Mendes tergiversou ao ser questionado sobre o motivo de os governadores não terem comparecido à reunião convocada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir formas de lidar com a questão. O chefe do Executivo do Mato Grosso alegou que muitos governadores “não se manifestaram” ao serem convidados, o que levou ao cancelamento do encontro.

