O número de ataques de cães a pedestres no Distrito Federal tem aumentado significativamente nos últimos anos, impulsionado principalmente pelo abandono de animais nas ruas.

Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) revelam que, entre 2021 e 2024, os registros de ataques subiram 42%, passando de 198 para 281 ocorrências. Ceilândia lidera com 81 casos registrados nesse período.
Recentemente, dois incidentes graves chamaram atenção:
- Em 20 de agosto, Cláudia Gomes de Menezes, de 49 anos, foi cercada por uma matilha de seis cães no Setor O de Ceilândia. Ela sofreu mordidas no braço, nas pernas, no joelho e no ombro, necessitando de atendimento médico de urgência .
- Em julho, uma pediatra foi atacada por dez cães na Asa Norte, também em Brasília .
A Secretaria Extraordinária de Proteção Animal do DF (Sepan) está tomando medidas para enfrentar a situação.
O novo secretário, Cristiano Lopes, assumiu o cargo em agosto e, embora ainda não tenha concedido entrevistas, a secretaria informou que está buscando parcerias com abrigos particulares para acolher animais em situações emergenciais e está elaborando uma licitação para a criação de um novo albergue público.
“A secretaria tem buscado parcerias com abrigos particulares para acolher os animais em situações emergenciais, já que atualmente não dispõe de espaço suficiente para a alta demanda. Além disso, está em elaboração uma licitação para a criação de um novo albergue público, o que ampliará a capacidade de acolhimento e o atendimento desses casos”, acrescentou.
Especialistas sugerem que a castração em massa é uma medida eficaz a médio e longo prazo para controlar a população de animais abandonados.
Neste ano, ainda não há dados oficiais sobre as ocorrências. No entanto, apenas nos meses de julho e agosto, o portal noticiou dois casos graves: o da pediatra atacada por 10 cães na Asa Norte e, mais recentemente, o ocorrido na quinta-feira (21/8), em Ceilândia, quando uma mulher foi derrubada e ferida por seis cães. “Minha sensação foi de que eu iria morrer. A fêmea veio para atacar meu pescoço, mas coloquei meu braço na frente. Se fosse uma criança, teria morrido”, relatou a vítima.
A infectologista e presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Lívia Pansera, explica que as mordidas poderiam causar infecções bacterianas ou até mesmo a morte pela transmissão da raiva.
“A saliva do animal contém microrganismos capazes de provocar inchaço, dor, pus e sepse [infecção generalizada]. E essas complicações são ainda mais preocupantes em ferimentos profundos nas mãos e braços, que podem comprometer tendões, ossos e a função do membro”, explicou Lívia.

Situação dos animais no DF
A reportagem esteve em três regiões diferentes do Distrito Federal nesta sexta-feira (22/8), visitando áreas comerciais e residenciais que abrigam cães em situação de rua: Asa Norte (Plano Piloto), Itapoã e Paranoá.
Entre essas regiões, a Asa Norte é a que mais preocupa em relação à presença de animais abandonados. Moradores e comerciantes, mesmo após o último ataque amplamente repercutido, continuam relatando medo e insegurança ao circularem pelas ruas.
Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) mostra que aproximadamente 15% da população em situação de rua da capital vive acompanhada de animais de estimação.
A quadra comercial da 710 Norte é um espaço que tem recebido relatos de moradores em situações de rua andando pelo local com seus cães. Contudo, os animais domésticos trazem um adendo de serem violentos.
“Eu nunca vi tanto cachorro na rua na minha vida quanto agora. Enquanto os animais estão sentados próximos à pessoa que cuida deles, você tem que passar distante. Não dá para passar pertinho, porque eles vão querer avançar em você. E não só um, nem dois, nem três animais, são sempre mais de quatro. A gente corre perigo”, relatou a comerciante Gilma Lima, 61 anos.
A dona de um dos estabelecimentos da quadra, que pediu para não ser identificada, acrescentou que os cães são “valentes e bravos”, além de serem um acaso de “espantar a clientela” da comercial.
A mesma situação ocorre na quadra residencial 416 Norte. De acordo com o zelador Francisco Brandão, 66 anos, moradores de rua que acampam próximos ao fim da L4 têm provocado riscos. Há cerca de 20 dias, ele presenciou um ataque de cães em frente ao bloco onde trabalha.
Na avenida principal do Paranoá, foram flagrados ao menos sete cachorros perambulando pelos comércios, mas sem apresentar nenhuma ameaça ou incômodo aos pedestres. O comerciante de uma loja, identificado como Gilberto Gomes, 61 anos, retratou, inclusive, que a presença deles ali faz parte do cotidiano.
“Costumar ter um bando de cachorro espalhados por aqui [comercial], mas nunca tivemos nenhum caso de ataque. Eles só ficam andando para lá e para cá, é normal”, destacou.


