A ciência revela por que pequenos favores podem transformar seus relacionamentos — e até sua autopercepção
A maioria das pessoas acredita que primeiro gostamos de alguém e, só depois, escolhemos ajudá-la. Mas a ciência mostra que essa lógica pode funcionar ao contrário. Uma pesquisa publicada no Fudan Journal of the Humanities and Social Sciences indica que fazer um favor a alguém pode, paradoxalmente, fazer você gostar mais dessa pessoa — um fenômeno conhecido como Efeito Ben Franklin.
O conceito leva o nome de Benjamin Franklin, que relatou usar pequenos pedidos para conquistar a simpatia de adversários políticos. Em um dos episódios mais citados, ele pediu a um rival que lhe emprestasse um livro raro. O homem aceitou e, desde então, tornou-se muito mais amigável, buscando sua companhia e aprovação.
A psicologia por trás do Efeito Ben Franklin
Segundo o estudo, o mecanismo central do fenômeno é a dissonância cognitiva — o desconforto mental que surge quando nossas ações não combinam com nossas crenças. Para aliviar essa tensão, o cérebro ajusta nossas atitudes.
No caso do Efeito Ben Franklin, quando ajudamos alguém por quem não nutríamos afeto, nosso cérebro conclui: “Eu não faria um favor a quem não gosto… então talvez eu goste dessa pessoa.”
Essa reinterpretação altera nossos vínculos, aumenta a empatia e fortalece a confiança.
O fenômeno ganhou respaldo científico com um experimento clássico de 1969, conduzido por Jon Jecker e David Landy e publicado no periódico Human Relations. Participantes que fizeram um favor ao pesquisador passaram a avaliá-lo como muito mais simpático do que aqueles que receberam um favor ou não tiveram interação. A conclusão: ajudar alguém muda a forma como você vê essa pessoa — e não o contrário.
Décadas de pesquisas em psicologia reforçam essa dinâmica: nossas ações moldam nossas crenças mais do que imaginamos.
Onde o Efeito Ben Franklin aparece no dia a dia
Você provavelmente já vivenciou esse fenômeno:
No trabalho:
Oferecer ajuda ou pedir a opinião de um colega aumenta o senso de parceria. Quando investimos esforço em alguém, o sucesso dela passa a ter um pouco do nosso.
Em amizades e relacionamentos:
Pequenos gestos — fazer um café, ajudar em uma mudança — parecem simples, mas constroem justificativas internas poderosas sobre por que nos importamos com o outro. A reciprocidade fortalece vínculos; a falta dela pode gerar ressentimento.
Em dinâmicas sociais e networking:
Pedir um favor é, em essência, um elogio. Demonstra confiança no julgamento do outro e cria um sentimento de utilidade — exatamente o que Franklin explorava com maestria.
Na prática, o efeito nos convida a agir antes de esperar sentir conexão. Um pequeno favor pode reaproximar alguém com quem você perdeu contato, ou iniciar uma relação que parecia distante.
Como usar o Efeito Ben Franklin de forma ética
Aplicar esse conhecimento não significa manipulação, mas compreensão das dinâmicas sociais:
- Comece com pequenos atos: emprestar algo, compartilhar um recurso, orientar um colega.
- Permita-se pedir ajuda: isso aproxima as pessoas e combate a falsa autossuficiência.
- Seja genuíno: pedidos artificiais não ativam o mecanismo psicológico.
- Observe as mudanças: perceber como seus sentimentos evoluem após ajudar alguém é uma forma poderosa de autoconhecimento.
