Em um culto da igreja evangélica Sete Church, o empresário Felipe Macedo Gomes — investigado pela Polícia Federal (PF) por suspeita de participação nas fraudes contra aposentados no esquema conhecido como “Farra do INSS” — celebrou o sucesso de seus negócios e fez menção aos sócios Américo Monte e Anderson Cordeiro, que acompanhavam o testemunho ao lado da esposa de Gomes.
No evento realizado em junho de 2024, Felipe Macedo Gomes relatou como se converteu à religião evangélica e afirmou que o sucesso de seus negócios começou em setembro de 2022, quando passou a pagar o dízimo, incentivado por sua cunhada. Foi naquele mesmo ano que a Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), da qual ele era presidente, firmou acordo com o INSS para realizar descontos sobre aposentadorias.
“Ela [cunhada] falou assim: ‘eu faço um desafio com você. Você tem vários negócios; pega o seu menor negócio, aquele que te rende menos, e começa a dizimar’. Eu falei: ‘ah, tá bom’. Aí eu fiz. Isso foi em setembro de 2022; dois meses depois, naquele contrato, eu tive um aumento de 25% da minha receita. Eu vi a mão de Deus e aí comecei a entender o que é o dízimo”, disse Felipe Gomes durante o culto, realizado em uma igreja em Alphaville, na Grande São Paulo.
As apurações motivaram a abertura das investigações da Polícia Federal, que culminaram na Operação Sem Desconto, deflagrada em abril deste ano. O escândalo provocou as quedas do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
De acordo com dados da Controladoria-Geral da União (CGU), a Amar Brasil Clube de Benefícios faturou R$ 143,2 milhões com descontos indevidos sobre aposentadorias, entre 2022 e junho de 2024. Em março de 2022, o empresário Felipe Macedo Gomes assinou o Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, que permitiu os descontos. No primeiro ano, a entidade arrecadou pouco mais de R$ 1 milhão, mas o negócio decolou nos anos seguintes.
Sócios em oração
Na igreja evangélica Sete Church, liderada pelo pastor Cesar Belluci, o empresário Felipe Gomes relatou as dificuldades enfrentadas em sua trajetória como empreendedor. Ele afirmou ter mantido a fé e o pagamento do dízimo mesmo quando estava no “cheque especial” e disse acreditar que foi recompensado com uma fortuna nos anos seguintes. Durante o testemunho, Felipe mencionou os sócios Anderson Cordeiro e Américo Monte, que também comandaram outras entidades investigadas no esquema conhecido como Farra do INSS.
Durante o culto, o empresário relatou as dificuldades enfrentadas na trajetória profissional e afirmou que manteve a fé mesmo em momentos de crise. Segundo ele, os sócios Anderson Cordeiro e Américo Monte participaram de orações realizadas de madrugada no escritório. “A gente não pensou em murmurar, mas dobrou o joelho e orou. Deus falava que ia dar vitória, mas a gente não entendia”, disse.
O empresário afirmou ainda que é dizimista da igreja e que os sócios também passaram a contribuir. “Assim que a gente recebe nossos recursos, fazemos o nosso dízimo, oramos juntos, ligamos para o apóstolo e pedimos para ele orar. Aquele dízimo, que era parte menor do menor negócio da minha vida, hoje é 40 vezes maior do que o primeiro colocado nesse altar”, declarou.
Como mostrou numa reportagem neste domingo (5/10), Felipe Macedo Gomes, Américo Monte e Anderson Cordeiro são sócios de Igor Delecrode, dono de uma empresa usada para fraudar a verificação biométrica de aposentados nos descontos associativos. O grupo controlava quatro entidades envolvidas na chamada Farra do INSS e ostenta uma vida de luxo.

